Claudius Brito – “O que que você quer com dinheiro, menino?” Tempos atrás, essas era uma pergunta recorrente de nossos pais. Claro que a gente queria fazer compra de acordo com a idade: um picolé; um docinho daquele da venda da esquina; quem sabe, um refrigerante ou sorvete do tipo “vaca amarela” ou “vaca preta”.
Já explico: era um tipo de milk shake, misturando guaraná ou Coca-Cola). No Bar Elite, na Praça do Coreto, era o lugar onde se tinha essa delícia da época.
Mas, dinheiro para quê?
Juntar para uma matinê de domingo no cinema. Ou, ainda, para comprar linha e papel para fazer pipa. Uma tábua para o carrinho de rolimã. Porque não também, comprar alguns pacotinhos de figurinha para o álbum da moda ou a revista da Mônica, do Tio Patinhas, do Pato Donald.
Enfim, a lista de vontades era grande, mas não havia o essencial: a grana. Era curta mesmo e quando se tinha, tinha de valorizar.
Hoje as coisas são bem acessíveis, em se tratando de consumo. E as crianças têm desejos diferentes e produtos diferentes. O picolé não é mais o do carrinho de rua. E o sorvete não é aquele colorido que saia de uma máquina estranha na porta do colégio, de várias cores, que tinha o mesmo sabor para todos: groselha.
Brinquedo, para nós meninos, via de regra era o carrinho. Os de plástico que eram mais comuns, a gente abria, colocava algumas pedras dentro, assim, nas descidas eles ganhavam mais velocidade. E tinha corrida para ver o mais possante.
Mas, enfim, voltando à questão do dim-dim. O que fazer para conseguir e satisfazer os mínimos desejos de consumo?
Quem tinha um pés de limão e laranja no quintal ou em uma chácara, tinha produto certo para vender e conseguir algum dinheiro.
Mas, vez por outra, era preciso também colocar a criatividade para funcionar. Assim, de vez em quando, era organizada uma peça de teatro, no porão da casa. Familiares e vizinhos eram “convidados”, mas tinham de deixar umas pratas de ingresso.
O roteiro, o cenário, e tudo mais era organizado com muitos dias e os ensaios também. A memória não alcança o tema das peças. Mas, certamente, coisa de crianças e pré-adolescentes. E assim a gente ia conseguindo fazer as coisas.
Muitos meninos, entretanto, iam às ruas para ajudar com o sustento de suas famílias, colocando nos ombros uma caixa de engraxar sapatos.
Hoje isso mudou, porque lugar de criança é na escola, para que ela possa ter oportunidades melhores para realizarem seus sonhos e conquistas.
Tudo teve o seu tempo. A vida muda; o trem da história passa. Mas é bom recordar aquelas experiências vividas em um tempo não muito distante. Um tempo de aprendizado, diga-se de passagem, de se dar valor ao que se tinha e ao que se podia.
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