Bate na caixa, muda o pé…!

Esse era o ritual de quem dava um trato nos sapatos com os engraxates.

Em Anápolis, no coreto da praça Dr. James Fanstone, no coração da cidade, em frente ao hospital erguido nos idos de 1927 pelo médico e sua esposa Dayse, era um local onde se buscava o serviço desses prestativos trabalhadores.

Em sua maioria, meninos de origem humilde que buscavam naquele ofício não regulamentado, uma forma de ajudar no sustento da família.

Eles carregavam nas costas uma caixa de madeira com uma parte elevada e uma espécie de plataforma para o encaixe do sapato.

Não tem como comparar, mas certamente, por ser uma caixa em madeira e cheia de apetrechos, talvez tivesse um peso bem superior ao que pesam as mochilas que as crianças hoje levam para escola.

Dentro da caixa iam os produtos: a graxa (cores preta, marrom e branca- essa última para o caso de um cliente médico ou dentista); algumas escovas de dente para espalhar o produto; escovas e panos para dar o toque, o brilho.

Primeiro um pé, depois a batida do engraxate na caixa para o cliente se atentar e subir o outro pé calçado. Uns segundos para secar e os pisantes ali estavam reluzentes.

Muitos engraxates trabalhavam mesmo nas ruas, fazendo abordagens aos clientes: “Vai uma graxa aí, senhor?”. Às vezes, o serviço era na calçada da rua mesmo.

Na porta do Magazine Anapolino era cena comum ter ali uma pessoa engraxando os sapatos e lendo o jornal comprado ali no local tradicional.

Alguns engraxates tinham “carteira” de clientes fixos em residências e, via de regra, eles passavam em um dia da semana em determinada casa e ali engraxavam vários sapatos de uma vez.

Se tornavam conhecidos e cativos de todos. Alguns engraxates eram tão “miúdos”, que a caixa dava quase na cintura.

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O tempo passou e, hoje, engraxate é figura em extinção. Por uma série de fatores, inclusive, de ordem legal.

E, também, os tempos são outros. Hoje, muitos daqueles que foram engraxates, que carregaram caixas nas costas e fizeram “toc-toc” para mudança dos sapatos a serem lustrados, viraram doutores: advogados, jornalistas, médicos. Alguns podem não ter tido tanta sorte e o destino, infelizmente, foi diferente.

Contudo, certamente, independente da condição financeira, se orgulham do que fizeram, pois o fizeram com dignidade. E isso é o que se leva da vida.

Aos engraxates, pois, todo o respeito. E…toc, toc! Muda o pé!