Acidente com o césio 137 em Goiás completou 35 anos

Por Claudius Brito- O ano era 1987. O anapolino Henrique Santillo estava à frente da Administração Estadual. Goiânia, a capital do Estado, se preparava para receber um evento internacional de motovelocidade.

No dia 13 de setembro de 1987, dois catadores de materiais recicláveis, Roberto Santos e Wagner Mota, usando um carrinho de mão, transportaram uma peça grande recoberta por chumbo que haviam encontrado dentro de uma clínica abandonada, no Setor Aeroporto, em Goiânia.

Na casa de Roberto, foi feita uma tentativa de abrir a peça. Contudo, pequenas quantidades de cloreto de césio se soltaram e caíram no pé dele.

No mesmo dia, os dois rapazes começaram a se sentir mal. Mas, como os sintomas se pareciam com os de uma intoxicação alimentar, a vida seguiu.

Dias depois o cabeçote foi vendido para o ferro-velho de Devair Alves Ferreira, que ficava na rua 26-A, distante mais ou menos um quilômetro da casa de Roberto. Foi aí que o césio-137 começou a se espalhar.

Brilho

Local, em Goiânia, de onde a cápsula foi retirada

Encantado pelo brilho azul emitido pelo elemento e sem saber do que se tratava, Devair levou a peça para dentro do seu quarto. Falava sobre ela o tempo todo e, com ferramentas, como chaves de fenda, retirava porções de césio, que carregava, mostrava e distribuía para vizinhos e parentes.

A manipulação do aparelho aconteceu no dia 13 de setembro. Contudo, só no dia 29 é que se descobriu tratar-se de um acidente radioativo. Inclusive, foi feito um comunicado à Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, que por sua notificou a Agência Internacional de Energia Atômica –AIEA. Iniciando-se, assim, um plano emergencial.

O fato ocorreu durante o governo de Henrique Santillo. Uma grande mobilização foi realizada na época, para evitar que a tragédia ganhasse maiores proporções.

Policiais militares, bombeiros e técnicos da área de saúde foram envolvidos no trabalho.

Retirada de material contaminado: parecia filme de ficção

Ainda com todos os cuidados e com toda essa mobilização, em certas localidades do país houve incidentes discriminatórios a goianos e ao Estado de Goiás, em decorrência do acidente.

Conforme foi noticiado à época, o acidente com o césio 137 em Goiânia gerou em torno de 3500 metros cúbicos de lixo radioativo.

Todo esse material foi acondicionado em contêineres concretados e enterrados a vários metros da superfície, num local isolado em Abadia de Goiás, cidade distante a 23 quilômetros da capital.

Desde então, tudo é monitorado pelo Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste, instalado pela CNEN.

Para fazer o acompanhamento daquelas pessoas que foram expostas à radiação, o Governo do Estado criou, em 1988, a Fundação Leide das Neves, que leva o nome de uma das vítimas da tragédia que marcou a história de Goiás.

Oficialmente, quatro pessoas foram a óbito em decorrência do contato com o elemento.

Menina Lei das Neves: símbolo de uma triste tragédia

Números do Césio 137

Foram identificados e isolados sete focos principais, onde houve a contaminação de pessoas e do ambiente e onde havia altas taxas de exposição.

No total, foram monitoradas 112.800 pessoas, das quais 249 apresentaram significativa contaminação interna e/ou externa, sendo que em 120 delas a contaminação era apenas em roupas e calçados, e as mesmas foram liberadas após a descontaminação.

As outras 129 passaram a receber acompanhamento médico regular.

Destas, 79 com contaminação externa receberam tratamento ambulatorial; dos outros 50 radioacidentados com contaminação interna, 30 foram assistidos em albergues em semi-isolamento, e 20 foram encaminhados ao Hospital Geral de Goiânia; destes últimos, 14 em estado grave foram transferidos para o Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, onde quatro deles foram a óbito, oito desenvolveram a Síndrome Aguda da Radiação – SAR -, 14 apresentaram falência de medula óssea e 01 sofreu amputação do antebraço.

No total, 28 pessoas desenvolveram em maior ou menor intensidade, a Síndrome Cutânea da Radiação (as lesões cutâneas também eram ditas “radiodermites”).

Os casos de óbito ocorreram cerca de 04 a 05 semanas após a exposição ao material radioativo, devido a complicações esperadas da SAR – hemorragia (02 pacientes) e infecção generalizada (02 pacientes).

Com pesquisa e informações dos sites da Alego/Wikipédia/SES-GO

Material recolhido foi para um depósito seguro