Crônica: Um certo Dr. Otávio…!

Obrigado, Dr. Otávio! Foi este o título do jornal Folha da Cana de nº 033 da Jalles Machado, numa edição especial em memória a Otávio Lage de Siqueira, que faleceu há 16 anos fazendo duas coisas que ele gostava: dirigir o seu carro e ir trabalhar.

A Jalles Machado perdeu um de seus fundadores. Porém, mais do que uma semente, ele deixou como legado um empreendimento que, hoje, é uma vitrine no Brasil e em outros países, no setor sucroalcooleiro.

A cidade de Goianésia, um prefeito que tinha os mais elevados compromissos sociais. Estado de Goiás ficou perdeu um governador que, em épocas difíceis, conseguiu deixar a sua marca de empreendedorismo.

A família e os amigos perderam uma pessoa exemplar, de conduta irreparável e que cumpriu com louvor sua jornada e a sua missão.

A história e o legado do Dr. Otávio são de uma riqueza peculiar. Tive a oportunidade de uma curta vivência com ele na empresa, onde atuei por alguns anos produzindo o informativo Folha da Cana.

Ia quase que semanalmente à Goianésia para colher as informações, para depois diagramar e mandar o impresso para a publicação. Era complicado, pois não dispunha das facilidades que a profissão oferece hoje, como um notebook, um celular, câmara, mensageiros, redes sociais, etc.

Por vezes, tinha de ir de ônibus e carregava na bagagem a CPU do computador.

A primeira vez que cheguei na Jalles Machado, impressionou-me a organização da empresa, desde a entrada na portaria até o restaurante, passando pela parte administrativa e o chão de fábrica.

Mas, como jornalista, deu-me um frio na barriga saber que conheceria, em pessoa, o empresário e ex-governador Otávio Lage.

O primeiro contato foi formal, numa rápida apresentação com alguns outros membros da diretoria: o Segundo Braoios e o Valthercides Pimenta.

Meu nome foi sugerido pelo meu cunhado Ricardo Steckelberg, que era, então, gerente industrial. Mas, antes de iniciar as atividades, passei pelo crivo sério do Luiz Carlos, gerente da área de Recursos Humanos, um grande companheiro de jornada. Ou, melhor, de jornais.

Enfim, em 2002 comecei a parceria com essa empresa. E, já de antemão, digo que foi uma experiência enriquecedora, sobre todos os aspectos: de trabalho, de aprendizado e de convivência.

Mas, voltando ao principal, certo dia, estava lá no RH e, de repente, o Dr. Otávio abriu a porta e entrou com uma cara severa. Tirou o cinto da calça, sob o olhar atento de todos ali na sala. E, de repente, disse: – Alguém me ajuda, preciso de mais um furo.

Era mais uma faceta do Dr. Otávio que acabava de conhecer: a humildade e o bom humor, juntos naquela personalidade carismática.

Alguns anos depois, chegando de Goianésia em Anápolis, fui surpreendido no dia seguinte com a notícia do falecimento do Dr. Otávio, num acidente de carro.

Tive de retornar, deixando alguns compromissos que tinha. Depois, foram idas e vindas mais frequentes, pois tínhamos a ideia de fazer um especial sobre o Dr. Otávio no Folha da Cana. E assim o fizemos. Também, fizemos publicações semelhantes para o Grupo Lage e o frigorífico Goiás Carne (empresa também ligada ao grupo).

Foi aí que mergulhei na história do Dr. Otávio, contada por familiares, amigos e por pessoas que trabalharam com ele.

Muita coisa me surpreendeu nessa viagem na história de Otávio Lage. Uma delas, foi sobre a sua passagem pela Prefeitura de Goianésia. Tudo era difícil na época de sua gestão e um dos maiores desafios era a educação, que ele mirava como um dos principais objetivos.

Não havia mão-de-obra. E ele mesmo, prefeito e engenheiro formado pela Escola Politécnica de São Paulo, encontrava tempo para dar aulas aos alunos da rede pública. As pessoas que ele chamara para compor a equipe administrativa, também tinham, em grande maioria, de selar o compromisso de ir para a sala de aula.

Também me surpreendi com histórias pitorescas, como a que ele, Dr. Otávio, saiu de Goianésia pilotando um ultraleve para “dar um pulo” na fazenda. Chegando no local, ele fez a manobra de pousar, mas algo deu errado e o veículo aéreo capotou.

Felizmente, foi só um susto.  Mesmo após o incidente, Dr. Otávio ainda queria voltar no ultraleve. Mas, aí, falou mais alto a voz da esposa, Dona Marilda, que mandou buscar um caminhão para levá-lo de volta. A história foi narrada, à época, por Isaac Silva.

Não há, também, como não reportar o pioneirismo e o empreendedorismo de Otávio Lage, ao fundar a Goianésia Álcool, junto com um grupo de empresários, com o objetivo de afastar o fantasma da falta de emprego na região. Isso, no início da década de 1980.

Antes, de 9 de fevereiro de 1962 a 1º de julho de 1965, Otávio Lage foi prefeito do Município de Goianésia. Em outubro de 1965, disputou e foi eleito Governador de Goiás, cargo que exerceu de 1966 a 1971, deixando importantes legados como a criação da Saneago, a implantação da Usina de Cachoeira Dourada e a Cooperativa de Habitação.

Obras que, ao lado de outras não menos importantes, ajudaram a alavancar o desenvolvimento econômico e social de Goiás.

Assim como o pai, Jalles Machado, Otávio Lage deixou uma biografia extensa e uma mais extensa ainda folha de serviços prestados a Goianésia, a Goiás e ao Brasil.

E o legado de uma família que, como ele, abraçou Goianésia com muito carinho, com muita dedicação e, sobretudo, muito trabalho.

Mais de oito décadas de vida e muita história. Dr. Otávio plantou boas sementes e cultivou e colheu os melhores frutos na sua existência. Não haveria, portanto, como terminar essa crônica com a frase que sem dúvida foi e ainda é dita e repetida por muitos: – Obrigado, Dr. Otávio!

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