Em entrevista ao Jornal CONTEXTO, o comandante da Base Aérea Anápolis, coronel aviador Gustavo Pestana Garcez falou sobre esse momento histórico
Claudius Brito
Há uma expectativa por parte de todos, em relação à chegada dos novos caças Gripen. Como está sendo a preparação para isso?
Gustavo Pestana- A Força Aérea se preparou. É um planejamento bastante dedicado e minucioso, já de alguns anos. A assinatura do contrato foi em 2014 e, desde então, nós fizemos todas as adequações nas instalações. Os pilotos já foram para a Suécia e estão prontos para voar no Gripen.
Tudo isso está acontecendo para que, no ano que vem, as aeronaves comecem a chegar. São 36 caças. No ano que vem chegam os quatro primeiros e nos anos subsequentes vão chegando os outros.
Hoje nós estamos com um caça Gripen aqui em Anápolis, mas ele ainda faz parte do acervo da SAAB. Ele está em teste. É um avião de ensaio como a gente chama. Está sendo desenvolvido.
Ano que vem sim, chegam as quatro primeiras aeronaves da Força Aérea Brasileira.
Todos os 36 ficarão em Anápolis?
Gustavo Pestana- Todos os Gripen foram planejados para ficar aqui na Base Aérea de Anápolis. Futuramente pode haver até uma adequação.
Isso ocorre porque, para receber os Gripen, nós precisamos de uma estrutura especial na parte de manutenção das aeronaves, nas inspeções, no local que elas vão ficar “estacionadas”- vãos dizer assim.
Enfim, são aeronaves que requerem equipamentos especiais e que são caros. Então, nós concentramos aqui em Anápolis toda essa estrutura para que, posteriormente, ele possa também operar em outros locais. Mas, inicialmente, os 36 caças ficarão aqui.
Para isso, muitas adequações vêm sendo feitas para garantir essa operacionalidade das novas aeronaves?
Gustavo Pestana – Sim, exatamente. Isso aconteceu tanto para o Gripen, quanto para o KC-390 Millenium. Nós temos aqui quatro dessas aeronaves que já transportaram centenas de toneladas de insumos para o combate à pandemia. O KC-390 teve um papel fundamental de apoio à logística na região da Amazônia, por exemplo.
Então, nós também tivemos de fazer obras de infraestrutura para recebermos os KC-390. Tivemos e temos ainda muitas obras que estão sendo finalizadas para que possamos ter aqui as aeronaves, que são aeronaves muito modernas.
Como está sendo a preparação dos pilotos que irão voar no Gripen?
Gustavo Pestana – Os cinco primeiros pilotos já fizeram a preparação e já voltaram da Suécia. São seis meses, aproximadamente, de curso. Eles vão lá, fazem todo o treinamento, que é um treinamento bastante puxado. Tem de ter fluência em inglês, porque é um treinamento muito forte na parte teórica, para depois irem à parte prática que são os voos.
Então, tivemos a ida da primeira turma que já retornou. Em janeiro vai a segunda turma, com mais cinco pilotos e, em 2023, mais uma turma de quatro pilotos. Temos aí um grupo de 14 pilotos preparados para darmos o ponta-pé com as operações desse avião.
Esses preparativos para a recepção dos novos caças também incluem um aumento de efetivo na Base Aérea de Anápolis?
Gustavo Pestana – Sim. Hoje, para se ter uma ideia, a Base Aérea tem um orçamento só em folha de pagamento na ordem de R$ 25 milhões mensais para todo o efetivo, ou seja, tanto os da ativa quanto os veteranos.
Então, isso tem um significado para a economia da cidade. E, agora, a gente está em expansão em relação ao número de pessoas. Claro que não é um aumento muito grande, porque a tecnologia faz com que a gente consiga otimizar processos. Então, nós temos também de ter esse cuidado para não onerar muito a carga de folha de pagamento para a Força Aérea.
Se compararmos os antigos Mirage com os Gripen, qual seria a evolução?
Gustavo Pestana – É como se você pegasse uma bicicleta e colocasse junto com uma moto de corrida. É completamente diferente. O Mirage na época dele foi um avião espetacular. Talvez seja o Gripen de hoje.
Naquela época, um avião supersônico, na década de 70, era poderoso realmente. Hoje são os Gripen, os F22 americanos, outros aviões Rafale. Temos aí vários caças que estão, podemos dizer, na crista da onda.
O Gripen são aeronaves que estão nesse rol da última geração e têm uma capacidade absurda. Se a gente colocasse 10 Mirage daquela época e um Gripen, ele [o Gripen] venceria o combate, porque a tecnologia pesa muito e a evolução tecnológica da década de 70 para cá é muito grande.
Quando todos os 36 Gripen estarão em Anápolis?
Gustavo Pestana – Esse é um cronograma que está sendo ajustado. Mas a previsão é que em seis anos todos estejam aqui. Mas isso pode sofrer alguma alteração, porque os aviões começam a ser produzidos na SAAB, na Suécia. Mas, a partir do 18º, começam a ser produzidos aqui no Brasil.
Com isso vem a transferência de tecnologia?
Gustavo Pestana – Sim, esse foi o grande ponto desse contrato, dessa aquisição, ou seja, a transferência de tecnologia para que as nossas empresas, os nossos engenheiros tenham a capacidade de produzir um avião de igual monta, de igual capacidade.
Essas aquisições e incorporações de novas aeronaves colocam Anápolis em relação privilegiada em relação à questão operacional, não desmerecendo as demais unidades?
Gustavo Pestana – Com certeza, todas são muito importantes. Mas a Base Aérea de Anápolis tornou-se uma unidade estratégica fundamental. Não é à toa que ela está próxima do poder político-administrativo. Isso tem um peso e, além disso, tem uma localização central. Daqui nós podemos ir a qualquer lugar do País em poucas horas. Então, por vários motivos, a Base Aérea foi escolhida para abrigar esses aviões.
Base Aérea de Anápolis abriga história e tecnologia na aviação brasileira
Era ainda o final da década de 1960, quando as máquinas começaram a preparar o terreno para a construção da Base Aérea de Anápolis. Projeto que estava, então, balizado nas inscrições da Bandeira Nacional: “Ordem e Progresso”.
Ordem, com a presença militar no “coração” do Brasil. E Progresso, pela perspectiva de desenvolvimento econômico na região e atração de tecnologia. Uma delas, que estava por vir, era a chegada dos caças supersônicos Mirage, de fabricação francesa, capazes de quebrar a barreira do som.
Naquela época, além da preparação da estrutura para receber os caças, a Força Aérea Brasileira (FAB) enviou à França um grupo de pilotos para voar nos Mirage brasileiros. Esse grupo de pilotos ficou conhecido como os Djon Boys.
Em 27 de março de 1973, foi realizado em Anápolis o primeiro voo do supersônico F-103 Mirage, fato que oficialmente deu início às atividades da 1ª. Ala de Defesa Aérea (1ª. Alada). Mais tarde, ela foi transformada no 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA), também denominado Grupo Jaguar, com a missão de preservar a soberania do espaço aéreo nacional.
Olhos da Amazônia
A partir de 2002, ou seja, 30 décadas após a chegada dos Mirage, foram integradas à Base Aérea de Anápolis as aeronaves R-99 e E-99, equipadas com radares e equipamentos de sensoriamento remoto, com tecnologia embarcada de primeiro mundo para o projeto do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) e Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), fabricados pela Embraer.
Os aviões foram incorporados à frota da unidade pelo então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
Na ocasião estiveram presentes várias autoridades civis e militares, entre elas, o então comandante do 2º/6º GAV, Carlos Almeida Baptista Júnior, que recentemente foi indicado pelo Ministério da Defesa para assumir o Comando da Aeronáutica, cargo já exercido pelo seu pai, Carlos de Almeida Baptista, na época em que Fernando Henrique Cardoso governava o País.
KC 390 Millenium
Fabricado com tecnologia de ponta pela Embraer, o KC-390 Millenium também tem como destino a Base Aérea de Anápolis.
A Força Aérea Brasileira adquiriu 28 dessas robustas aeronaves multimissão, sendo que quatro delas já estão operacionais na Ala 2, em Anápolis.
A primeira aeronave foi entregue durante solenidade na unidade militar, ocorrida no dia 4 de setembro de 2019, com a presença do presidente da República, Jair Bolsonaro.
Os KC-390 Millenium são preparados para atividades múltiplas da FAB, inclusive, missões sociais como ocorreu no transporte de vacinas e outros insumos e equipamentos usados para a prevenção e o combate à pandemia do novo coronavírus.
O F39 Gripen
Na quarta-feira, 20/10, pousou na Base Aérea de Anápolis o primeiro caça Gripen. Trata-se, ainda, de um modelo de treino da aeronave que é produzida pela empresa sueca SAAB.
Em 2014, através do projeto FX, a Força Aérea Brasileira firmou um contrato para a aquisição da nova frota de caças, num total de 36 aeronaves com alta tecnologia embarcada.
No ano que vem, está prevista a chega do primeiro lote dos aviões que receberão a denominação de F 39 Gripen. Depois, paulatinamente, serão entregues novas unidades e o início da nacionalização da produção, o que deverá alçar o Brasil a um novo patamar na aviação de defesa do mundo. E, certamente, Anápolis estará presente neste capítulo importante da aviação de caça e da Força Aérea Brasileira.
Semana da Asa é comemora com evento social em Anápolis
Até o dia 30 de outubro, quem for ao Brasil Park Shopping poderá conhecer um pouco mais sobre o papel e o funcionamento da Base Aérea de Anápolis/Ala 2.
Em comemoração ao Dia da Força Aérea, a Semana da Asa, terá uma programação bem interessante para a população, que poderá conhecer a unidade por meio de vídeos, materiais informativos e por informações prestados por integrantes da FAB que estarão por lá fazendo este feedback.
Além disso, apresentações da banda de música da unidade, exposição de réplicas de aeronaves, uniforme de piloto e, até, uma cadeira injetável para tirar fotos. Certamente, um atrativo para as crianças.
O comandante da Base Aérea, Gustavo Pestana Garcez, acrescenta que todos os eventos da unidade este ano terão um viés social e este não é diferente.
Todo mundo que for ao shopping poderá doar alimentos não perecíveis que serão revertidos para instituições de caridade da cidade. Além disso, a pessoa que fizer a doação vai concorrer a uma visita às instalações da Base Aérea, para conhecer a estrutura, os aviões e um pouco da rotina dos pilotos.