Claudius Brito- Matéria publicada no Jornal/Portal CONTEXTO– Não é exagero dizer que Henrique Santillo foi um dos políticos da melhor envergadura que não só Anápolis e Goiás tiveram, mas o Brasil.
Não, apenas, pelo fato de ter ocupado vários cargos públicos, nos níveis municipal, estadual e federal. Mas, sobretudo, pela humildade, o zelo com a coisa pública e com a honestidade, que o marcaram numa trajetória que merece um lugar especial nos livros de história.
Até hoje, ainda surge muita coisa do legado deixado por Henrique Santillo, que faleceu no dia 25 de junho de 2002, portanto, há 20 anos.
Há poucos dias, uma campanha de resgate à história, realizada pela Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), trouxe à tona uma de muitas ações que marcaram a carreira de Henrique Santillo e que pouca gente conhece. A sua visão e participação num momento importante para Goiás, que foi a divisão do Estado, com o desmembramento da região Norte, onde foi criado a mais nova unidade da federal, o Estado do Tocantins.
A publicação da Alego lembra que desmembramento da região Norte de Goiás e criação do estado do Tocantins deu-se, de forma efetiva, a partir da Constituição de 1988. Contudo, o sonho emancipacionista tem raízes mais longas na história.
Em 1821, o representante da corte portuguesa na Comarca do Norte, Teotônio Segurado, chegou a proclamar o governo autônomo do Tocantins, mas com sua morte, em 1831, o movimento perdeu força.
Na primeira metade do século seguinte, o brigadeiro Lysias Augusto Rodrigues defendeu a revisão territorial do Brasil e a criação do território federal do Tocantins. Já em 1956, o juiz Feliciano Machado Braga, com grande apoio popular e das classes política e empresarial, lançou, em Porto Nacional, o 1º Manifesto à Nação pela Criação do Estado do Tocantins.
A partir de 1970, a bandeira da criação do novo estado ganha força no Congresso Nacional, com a eleição de José Wilson Siqueira Campos para a Câmara dos Deputados. Anos depois, Siqueira Campos se tornaria o primeiro governador do Tocantins.
Com o movimento fortalecido, as resistências iam sendo quebradas e, aos poucos, a ideia da divisão do estado de Goiás se cristalizou.
O então governador do estado à época, Henrique Santillo, curvou-se à vontade popular e declarou: “O povo nortense quer o estado do Tocantins. E o povo é o juiz supremo. Não há como contestá-lo”.
Após a promulgação da Constituição Federal, em 1988, que sacramentou a criação do novo estado, os municípios que compunham o então Extremo Norte goiano passaram, oficialmente, para o Tocantins. Também foi assinado decreto para alterar o nome de algumas cidades. O termo “do Norte” foi substituído para “do Tocantins”. Foi o caso das cidades de Miracema, Paraíso e Aurora, que passaram a se chamar Miracema do Tocantins, Paraíso do Tocantins e Aurora do Tocantins.
O Estado do Tocantins foi instalado oficialmente em 1º de janeiro de 1989, na cidade de Miracema do Tocantins, capital provisória. Os deputados, o governador e o vice-governador foram empossados na mesma data. Já os deputados federais e os senadores tomaram posse no Congresso Nacional em 1º de fevereiro de 1989. Em 1° de janeiro de 1990, a capital planejada, Palmas, passa a ser a capital definitiva do Tocantins. (Com informações da Alego)
Uma biografia sem retoques do político anapolino que brilhou em Goiás e no Brasil
Henrique Santillo nasceu na cidade de Ribeirão Preto, no ano de 1937. Filho de Virgínio Santillo e Elydia Maschietto Santillo, veio ainda criança para Anápolis, junto com os irmãos Adhemar e Romualdo. Trio que mais tarde ficou conhecido nacionalmente como os “Irmãos Coragem”, pela luta em prol da retomada da democracia pós-regime militar.
Henrique foi casado com Sônia Célia Santillo e pai de Elídia Célia, Sônia Míriam, Carla, Carlos Henrique e Virgínio Neto.
O menino Henrique, que trabalhou na banca do Mercado Municipal ao lado do pai, cursou o primário, o ginásio e o científico (nomenclaturas da época para os níveis de ensino) e, a partir dali, já começou a ensaiar os primeiros passos na política, no movimento estudantil.
No ano de 1963, graduou-se em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais e retornou para Anápolis. Já com boa reputação profissional e com os olhos voltados a uma de suas paixões, a política, Henrique elegeu-se vereador, no ano de 1966. Três anos depois, o jovem Santillo foi eleito prefeito da cidade.
A partir de então, ascendeu à carreira política com os cargos de deputado estadual, senador e governador.
À frente do governo de Goiás teve atuação notória na área da saúde. Construiu 12 hospitais, entre eles o Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO). Implantou o programa Agente Comunitário da Saúde e foi o primeiro governador a aderir ao Sistema Único de Saúde (SUS).
O trabalho foi reconhecido pela esfera federal. Santillo assumiu o Ministério da Saúde em 1993. Lá, idealizou e implantou o Programa Saúde da Família (PSF), trabalhou pela consolidação dos genéricos, lutou contra a indústria tabagista e conquistou o certificado de erradicação da poliomielite no território brasileiro.
Humilde, depois de deixar o Ministério, Santillo voltou à atender a população numa pequena unidade do PSF, que ajudou a criar, no Bairro Jandaia, na periferia da cidade.
Henrique Santillo atuou também na secretaria estadual de saúde e foi membro e presidente do Tribunal de Contas do Estado de Goiás.
Henrique Santillo foi velado e sepultado em Anápolis, com honras de chefe de Estado. Uma carreira marcante e que fez muitos seguidores, entre eles, um jovem da camisa azul, Marconi Perillo, que também teve uma carreira expressiva, passando pelos cargos de deputado estadual, deputado federal, senador e governador, por quatro mandatos.
Neste sábado, 18, os 20 anos do passamento de Henrique Santillo serão lembrados com uma missa em sua homenagem, na catedral do Bom Jesus, às 16 horas.