Praça Bom Jesus: religiosidade, poder, cultura e muita história guardada

Por Claudius Brito – Há poucos dias, sem muito alarde, o bispo diocesano Dom João Wilk e o prefeito de Anápolis, Roberto Naves, anunciaram o resultado de um trabalho que durou cinco anos: a permuta de imóveis da igreja para fins de regularização, com a Praça Bom Jesus.

A igreja tinha construções em terrenos que pertenciam à Prefeitura e a Prefeitura, por sua vez, tinha edificações e equipamentos na área da Praça Bom Jesus, cujo terreno pertencia à igreja. Fez-se as contas e no encontro delas, os dois lados saíram ganhando.

A igreja vai poder, enfim, regularizar os imóveis e a Praça Bom Jesus agora, de forma legal, pertence à Prefeitura. Ou, melhor: ao povo.

Localizada no centro da cidade, a Praça Bom Jesus é um patrimônio de valor inestimável, pois ali tem-se história, religiosidade, cultura, política e qualidade de vida.

A primeira igreja Anapolina foi a Sant´Anna e a segunda, a do Bom Jesus, que surgiu por volta de 1913, edificada no Largo do Bom Jesus, onde se realizava uma famosa festa de romaria.

Ainda remontando a história, em 31 de julho de 1907, a Vila de Sant´Anna foi elevada à categoria de cidade, sob o nome de Anápolis e, em 16 de abril de 1915, foi instalada a Comarca.

O prédio construído no terreno da praça, na década de 1950, foi sede dos poderes Executivo (Prefeitura) e do Judiciário (Fórum), por vários anos. A Prefeitura funcionou até 1972, quando se mudou para o prédio da Praça 31 de Julho (antiga Câmara Municipal, demolido).

O Judiciário permaneceu mais alguns anos e a partir de 15 de janeiro de 1993, mudou de forma definitiva para o Edifício “João Barbosa das Neves”.

Portanto, decisões importantes, que afetaram a vida de muitas pessoas, foram tomadas ali daquele local.

A Praça Bom Jesus também foi um dos primeiros locais da cidade para se tomar taxi. Nas décadas de 1960-1970, era local de intenso lazer, com sorveteria, pizzaria, cinema (Cine Santana) e, claro, a famosa fonte luminosa.

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Aos finais de semana, a praça se enchia de pessoas ao cair da noite, para curtir o visual das águas coloridas que “dançavam” ao som de músicas clássicas.

A Praça Bom Jesus foi um dos locais de concentração dos torcedores da cidade que saíram às ruas para comemorar o tricampeonato de futebol na Copa do Mundo de 1970.

Urna do centenário

Num cantinho discreto do logradouro, está a Urna do Centenário. Quando a cidade completou 100 anos de emancipação, foi aberta a urna que ali fora guardada no cinquentenário da cidade, em 1957, com objetos e documentos.

O espaço cedeu lugar à urna do centenário, com mais um intervalo de cinco décadas e, assim, em 2057, quando for aberta, trará as suas revelações.

A praça possui vários monumentos, um deles, com um busto do fundador da cidade, Gomes de Souza Ramos. Infelizmente, o patrimônio não se encontra em boas condições e há sinais de vandalismo com pichação.

Numa das placas laterais, inclusive, há um breve registro histórico da cidade.

Como já dito, a Praça Bom Jesus é um bem de valor imensurável para Anápolis. E ela continuará sendo de todos: católicos, protestantes, espíritas, enfim, gente de todas as religiões, de todas as cores e raças, de todas as classes sociais.

A Praça não faz distinção de quem se senta nos seus bancos para contemplar, para uma conversa, um descanso na caminhada ou, mesmo, uma compra nas banquinhas ao seu redor.

A praça é o que sempre foi: do povo e para o povo. E que possamos preservar essa nossa riqueza, cada um fazendo a sua parte.