Jornalismo de histórias- I Parte

Comecei a labuta no jornalismo já no final de 1989, início de 1990. Oficialmente, meu primeiro trabalho foi no jornal O ANÁPOLIS. Na época de foca, fazia, claro, a cobertura policial e, naquele tempo, não tinha internet. Tinha de ir à Delegacia Geral pegar o livrão de ocorrências e pinçar os principais fatos para a edição da semana. Ou, então, nas delegacias.

Certa feita, um delegado entrou em contato e informou que havia efetuado a prisão de um elemento famoso no mundo do crime, na época, que era apelidado pela alcunha de Corta Goela. Fui lá, peguei as informações com o delegado e ele, gentilmente, me fez um convite: “Se quiser, pode falar com o Corta Goela”.

Disse que não precisava, porque já tinha a história toda e, convenhamos, ficar numa cela com um bandido com esse apelido não era nada confortável.

Trabalhei um tempo na sucursal do Diário da Manhã, em Anápolis. Não tinha ainda computador e as laudas produzidas eram enviadas via fax (ou fac-símile, como também era chamado o aparelho, hoje, desconhecido de muitos).

O detalhe é que ficamos sem fax e a alternativa que tinha era pedir uma ajuda. Foi na Associação Comercial e Industrial de Anápolis (Acia), que consegui essa ajuda. Era bem longe da redação, mas era o único recurso e tinha de ser só até às 18 horas. Era um “Deus nos acuda” para terminar e mandar.

Trabalhar para jornal da capital era bom, dava status. Mas, vez por outro, fazíamos as matérias com esforço e de quando em vez, algum editor mexia algumas linhas do texto encaminhado e assinava a redação. Aquilo era de lascar! Mas, faz parte.

Fiz uma breve ponta na televisão. Tive a oportunidade de um estágio na TV Anhanguera e lá fiquei uns dois meses. Foi um bom aprendizado. Não era para ser repórter. Acabei fazendo a parte de produção.

Quando voltei para trabalhar, na TV Tocantins, tinha uma gerente que queria que tivéssemos matérias para rede nacional. O problema que era tão exigente comigo, que toda pauta que eu produzia, caia. E via as mesmas reportagens em outras emissoras.

Certa feita, estava havendo a mudança de padrão monetário do Brasil. Tinha-se uma tal URV que depois seria convertida para o Real. Bolei uma pauta para que a gente fizesse uma matéria mostrando como pequenos comerciantes de localidades pequenas, estavam lidando com aquilo que, afinal, muitos não sabiam nem o que estavam acontecendo.

Minha matéria foi vetada. Dia seguinte, vi matérias semelhantes nos telejornais do SBT e do Jornal Nacional. Não falei nada. Deixei a TV, com uma passagem curta mas de muita aprendizagem e de bons amigos.

Também trabalhei e fui editor do Jornal do Dia. Era um diário muito bem feito à época, mas infelizmente, apesar do bom conteúdo e impecável diagramação, não houve a contrapartida devida comercialmente falando.

Foi, no Jornal do Dia, que enfrentei a mais dura, triste e importante cobertura da carreira: o acidente com os romeiros de Anápolis que voltavam de Aparecida-SP. Os dois ônibus colidiram com uma carreta de combustível e 55 vidas foram ceifadas. Foi uma grande mobilização, mas fizemos uma cobertura sóbria e sem sensacionalismos.

Mas, um belo dia, fomos informados que o Jornal do Dia teria de fechar. Fomos lá para a redação fazer os últimos despachos, eu e o Leo, editor executivo que viera de Goiânia juntar à equipe. Estavam tirando tudo, uma bagunça. De repente, chegou uma equipe de reportagem do Diário da Manhã, que queria fazer uma matéria sobre o fechamento do diário anapolino. Recebemos o repórter, demos as informações e o fotógrafo fazia sua missão.

No outro dia, lá estava eu e o Léo, no DM. Na foto da matéria, estávamos num cenário caótico de fim de mudança e pra completar, a legenda dizia que nós não sabíamos o que íamos fazer da vida. De fato, caiu a ficha: estávamos desempregados. Com a fama de sair em jornal, mas na rua!

A foto veio do baú do amigo jornalista Orisvaldo Pires. Na próxima parte, tem mais histórias do jornalismo.