Acidente com os romeiros: uma lição na cobertura jornalística envolvendo dor e tragédia

Por Claudius Brito – Madrugada do dia 8 de setembro de 1998, portanto, há exatos 25 anos. Dois ônibus com romeiros de Anápolis que retornavam de uma peregrinação em Aparecida (SP), colidiram em um caminhão que transportava combustíveis.

53 pessoas morreram carbonizadas e outras duas faleceram dias depois em consequência dos ferimentos. Anápolis viveu, com este acidente, talvez, um dos piores momentos de sua história.

Em especial, para os fieis das paróquias São Pedro e São Paulo e Nossa Senhora Aparecida. Uma parte das vítimas teve um velório coletivo à época, marcado por muita dor e emoção.

Houve casos em que várias pessoas pertencentes a uma mesma família vieram a óbito no acidente, algumas crianças e adolescentes.

Foi uma tragédia que causou comoção nacional. Veículos de comunicação de todas as partes do Brasil buscavam informações junto à imprensa local, a fim de reportar o acontecido.

Para homenagear as vítimas deste acidente, a Praça Gonçalves da Cruz, por meio da Lei Municipal nº 1.637, de 20 de dezembro de 1988, passou a denominar-se “Praça dos Romeiros”.

Dois anos depois, a Lei Municipal nº 2.709/2000 determinou a construção de um memorial na praça para lembrar as vítimas da tragédia.

Desde a construção desse memorial, todos os anos, no dia do acidente, é realizada uma missa aberta para reverenciar as vítimas e confortar os sobreviventes e os familiares.

Lição no jornalismo

No dia 8 de setembro, eu acabava de entrar na redação do extinto Jornal do Dia, quando a Edna Mendes, que trabalhava no setor de distribuição, me informou que havia acontecido um acidente grave, envolvendo pessoas de Anápolis.

Ainda não tinha a dimensão do tamanho da tragédia, porque as informações eram poucas e, ainda, confusas.

Me dirigi, então, à Paróquia São Pedro e São Paulo, que era de onde haviam partido os romeiros para uma peregrinação à Basílica de Aparecida, em São Paulo.

O acidente ocorreu na volta, durante a madrugada.

Na paróquia, a tristeza e a comoção eram tão grandes, que não havia clima para entrevista. Um padre me passou algumas informações. Afinal, tinha de fazer o meu trabalho, sentindo a dor que os familiares estavam sentindo, a dor que toda a cidade sentia. E fazer isso de maneira serena, sem sensacionalismo, mas buscando oferecer a melhor informação.

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Naquela época, ainda eram limitados os recursos da internet. Trabalhávamos com agências de notícias e, através delas, buscamos as informações de São Paulo. No caminho inverso, vários veículos de comunicação do país, também nos acionavam para a troca de informações.

Tivemos acesso a um banco de imagens, as quais mostravam um verdadeiro cenário de guerra no local do acidente. Em uma delas, havia corpos enfileirados carbonizados.

Na época, fiz opção em não usar essa foto. Optei por outra em que não havia essa exposição. Não era intenção impactar para ganhar público.

No dia em que o jornal foi publicado, recebemos na redação a ligação de algumas pessoas que nos agradeceram pelo tom de sobriedade e equilíbrio que adotamos, sobretudo, não publicando aquela foto, que foi a capa em outros jornais.

Foi um momento difícil e de aprendizado. De lidar com uma tragédia que afetou a vida de tantas famílias, que enlutou tantos corações.

Muitas vezes, o caminho da notícia é demasiadamente difícil de ser percorrido. Mas faz parte do ofício. Porém, o principal é o respeito que se deve ter para com as pessoas. É a verdadeira ética que líamos nos livros e, de repente, ele se colocou à nossa frente, na prática.

E, felizmente, nesse caso, fizemos nosso trabalho com respeito, com ética. Essa lembrança vai ficar para sempre gravada por todos da equipe que na época deram a contribuição nessa cobertura. Não é uma história boa, mas é uma história para ser lembrada.