Por Claudius Brito- Publicado no Jornal/Portal CONTEXTO– 25 de janeiro: Um homem de 45 anos de idade que conduzia uma motocicleta, perdeu a vida ao colidir com um veículo de passeio. 28 de janeiro: Um homem de 54 anos de idade foi atropelado por uma motoneta e teve a sua vida ceifada. 14 de abril: Um jovem de 21 anos de idade, militar da Base Aérea perdeu a vida quando ia para o trabalho. 30 de abril: Homem de 45 anos perde a vida numa colisão com um caminhão. 20 de maio: Uma idosa de 69 anos morre em acidente. 21 de maio: Jovem de 24 anos é atropelado por caminhão e morre, após grave acidente. 23 de maio: Homem de 68 anos sofre acidente e perde a vida em acidente. 25 de maio: grave acidente envolvendo dois caminhões deixa cinco pessoas feridas.
Parece inacreditável. Mas, os fatos relatados acima ocorreram, todos, esse ano e numa mesma rodovia federal que corta Anápolis, a BR-414. Nessa mesma rodovia, no ano passado, segundo dados do Painel de Consulta Dinâmica Acidentes Rodoviários elaborados pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), foram registrados 75 acidentes com vítimas, sendo 12 delas vítimas fatais.
Por trás desses números estão seres humanos, cujas vidas foram perdidas tragicamente. Por trás desses números, estão famílias que estão sofrendo a dor da perda repentina e dura. E, em alguns casos, a perda é de uma pessoa que era a provedora da família. Não dá, portanto, para mensurar o que todas essas tragédias representam para as famílias e para a sociedade em geral.
Já faz anos que a BR-414 que corta o perímetro urbano de Anápolis na porção Norte do Município é um problema. A rodovia dá acesso à Base Aérea de Anápolis e a bairros populosos da região, dentre eles, o Recanto do Sol.
A BR-414 tem cerca de 238 quilômetros de extensão, ligando Anápolis ao Município de Niquelândia, passando por Corumbá de Goiás e Cocalzinho, dando também acesso a Pirenópolis e é uma rota alternativa para se chegar à capital federal, Brasília.
Apesar de sua importância, esse eixo rodoviário, no trecho urbano de Anápolis, não tem merecido a atenção devida.
O histórico de acidentes, com vítimas não fatais e fatais, certamente, poderia ser menos traumático do que tem se apresentado, se houvesse ali algumas intervenções para melhorar a trafegabilidade dos veículos.
Uma busca nos arquivos do Jornal CONTEXTO, revela que o descaso vem de longa data. Em 2014, durante a inauguração do trevo de acesso ao Distrito Agro Industrial de Anápolis (DAIA), o então ministro dos Transportes, Sérgio Passos, recebeu um pedido de lideranças políticas e do setor produtivo locais, para a duplicação da BR-414, no trecho urbano do Município. Na época, a missão foi repassada ao diretor do Departamento nacional de Infraestrutura de Transporte, o DNIT.
Quase um ano depois, a autarquia apresentou o projeto de duplicação de um trecho de cerca de 13 Km, do trecho do Recanto do Sol até a entrada do novo presídio.
O DNIT chegou a realizar audiência pública para tratar da referida duplicação. Mas, até hoje, a obra não saiu do papel. Pior, com o passar dos anos, o fluxo de veículos aumentou e tende a aumentar mais com a ampliação da Base Aérea e com a expansão urbana que vem acontecendo na região Norte/Nordeste.
E, diga-se de passagem, a responsabilidade, hoje, já não está com o DNIT, uma vez que a BR-414 entrou no pacote de concessões rodoviárias do Governo Federal, sendo que a gestão foi assumida no ano passado pelo consórcio Ecovias do Araguaia. A concessão envolve a exploração das BRs 153, 080 e a 414.
O contrato de concessão, inclusive, foi assinado em Anápolis entre o consórcio e o Governo Federal. O prazo previsto é de 35 anos de vigência. Neste período, os investimentos previstos são da ordem de R$ 14 bilhões, sendo R$ 7,8 bilhões em obras e R$ 6,2 bilhões em custos operacionais.
Espera-se, portanto, que dentro dessas cifras bilionárias, um pouco seja destinado para atenção ao trecho urbano da BR 414 em Anápolis, assim como para o viaduto do Recanto do Sol, outro problema crônico e que já se arrasta também há vários anos.
Acidentes e mortes nas rodovias federais no Brasil geram custo bilionário
O índice de acidentes nas rodovias federais brasileiras aumentou 1,6% em 2021 em relação a 2020 – as ocorrências passaram de 63.447 para 64.452 casos. O mesmo se deu com as mortes, que cresceram 2,0%, passando de 5.287 vidas perdidas na malha federal, em 2020, para 5.391, no ano passado.
Esses dados constam no Painel CNT de Consultas Dinâmicas dos Acidentes Rodoviários, divulgado recentemente pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).
O Painel reúne dados de acidentes de 2007 a 2021. Nele, é possível realizar pesquisas interativas e recortes, nacional e por estado, que permitem conhecer a realidade de acidentes nas rodovias federais brasileiras. A estratificação das informações é realizada pela CNT, a partir dos registros da Polícia Rodoviária Federal.
“Os resultados sinalizam a necessidade de mais investimento em infraestrutura rodoviária e em educação no trânsito com foco na segurança viária, condicionantes que podem contribuir com a redução efetiva do número e da gravidade dos acidentes na malha rodoviária. A diminuição de acidentes gera benefícios para o transporte, para a economia e para a sociedade e, por isso, deve ser buscada”, ressalta o presidente da CNT, Vander Costa.
O custo anual estimado dos acidentes ocorridos em rodovias federais no Brasil chegou a R$ 12,19 bilhões. Esse montante é superior ao valor total efetivamente investido em rodovias em 2021 (R$ 5,76 bilhões).
Goiás
Em Goiás, no ano passado, nas rodovias federais que cortam o Estado, a pesquisa revela que 3.185 acidentes foram registrados, com um total de 2.553 vítimas (mortos e feridos).
A cada 100 acidentes com vítimas em Goiás, 12 pessoas morreram em Goiás. No ano de 2021, o total de vidas perdidas foi de 303.
O custo estimado com acidentes nas rodovias federais que cortam Goiás, segundo o painel, foi estimado em R$ 616,15 milhões. O que é quase um terço de todo o Orçamento estimado do Município de Anápolis para o ano de 2023, na casa de R$ 1,7 bilhão. (Com informações da CNT)